Morangos sem Açúcar: (17) Uma mente criativa e produtiva pode ser uma mente feliz e satisfeita?

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Olá e bem-vindos ao meu podcast e blog “Morangos sem Açúcar”, uma série sobre desenvolvimento pessoal, corpo, mente e bem-estar – pessoal e do planeta em que vivemos. O meu nome é Karlos K e gostaria imenso de ouvir a SUA opinião, comentários e experiências pessoais, através do email karlosk.books@gmail.com, no Instagram ou Facebook @karlosk.escritor ou no site www.karlosk.com/contacto.  

A semana passada falamos da forma de reconciliar Felicidade e Sucesso, duas realidades que vivem em tempos diferentes e por isso muitas vezes são incompatíveis: Felicidade existe no Presente, Sucesso existe apenas no Passado ou no Futuro.

Hoje falamos de outra dicotomia. As mentes produtivas e criativas são muitas vezes mentes angustiadas e ansiosas, que se alimentam das suas contradições. Isso pode tornar-se uma barreira a uma mente feliz e satisfeita. Mas não tem que ser incompatíveis: ao contrário da imagem romântica do artista atormentado na dor da sua alma ou o empreendedor em ânsia de mudar o mundo, podemos dar um passo consciente no sentido de dar algum conforto e felicidade à mente, sem perder a produtividade e criatividade.

Uma mente feliz e satisfeita é feminina… isso já todos desconfiávamos, só não sabíamos porquê.  Portanto aqui vai: os princípios de uma mente feliz são EELA. EELA é um acrónimo para Equilíbrio, Empatia, Ligeireza e Apreciação.

Uma mente feliz e satisfeita não tem necessariamente que ser uma mente acomodada e passiva. Certamente o envolvimento no mundo, a tensão para agir e mudar, cria naturalmente pontos de divergência entre a realidade que é e aquela que gostaríamos que fosse. Por isso, há muitas vezes a tentação de concluir que para atingir um estado nirvana de contentamento seria preciso um sentido de abnegação, abdicar dos prazeres ou da tentativa de intervir na realidade. No entanto, uma aceitação passiva não é viver em plenitude, é uma forma anestesiada de contentamento. A passividade anestesiada pode eliminar a dor e sofrimento, mas certamente não substitui a imensa satisfação de pensar e agir sobre o mundo e as pessoas à nossa volta – ou seja, de ver a matriz da realidade e tocar-lhe, deixar a marca da nossa existência.

Realizar plenamente todo o nosso potencial, o poder superior de que somos capazes se nos livrarmos dos nossos medos e preconceitos para nos entregarmos de corpo e alma a fazer aquilo que nos apaixona, é na verdade a forma mais pura de honrar o privilégio de existir. Os grandes homens e mulheres conseguem ver a matriz e atrevem-se a tocar-lhe porque o fazem quase sem esforço, como se fosse a coisa mais natural do mundo – para isso, temos que fazer aquilo que nos apaixona. Quando conseguimos descobrir o que nos move profundamente, agir, pensar, fazer, deixa de ser um ato de esforço para passar a ser um ato de amor, de carinho.

Nesta perspetiva, ter impacto no mundo e nas vidas dos outros, deixar a nossa marca na matriz do mundo, é muito diferente de deixar um “legado”. O “legado” é egoísta, é um presente que entregamos com o propósito de que o mundo se lembre de nós. Pelo contrário, o impacto que um grande artista ou cientista ou atleta ou engenheiro deixa no mundo é desinteressado, não no sentido de não trazer riqueza (por vezes sim, por vezes não) mas no sentido de que faz parte da nossa natureza, não podemos fazer outra coisa que não aquilo que fazemos. Um legado é construído com esforço. Um impacto na matriz é um ato de entrega apaixonada.

A maioria das empresas tenta forçar produtos e serviços medíocres ao mundo, empurrando as suas vendas pelas goelas abaixo dos consumidores com marketing e publicidade agressivo. Pelo contrário, as empresas que mudam o mundo tentam criar magia. Criar magia é mais difícil do que vender…

Mas então, as mentes agitadas que sentem um impulso imparável para agir e participar no mundo em vez de se retirar passivamente para um mosteiro nos Himalaias, estão condenadas as sofrer?

Não. A serenidade e felicidade são uma escolha.

A forma de lidar com a angústia e ansiedade inerentes a uma vivência do mundo, a pensar e agir, não é tentar eliminar essa angústia e ansiedade, mas desenvolver uma relação saudável com esses sentimentos. Parar uma mente inquieta apenas é possível por anestesia, seja retirando-se do mundo para viver como eremita intelectual seja por via química com drogas, álcool ou medicamentos. Só que para desenvolver uma mente feliz e satisfeita não temos que eliminar a angústia e ansiedade – temos antes que aceitar essas sensações como parte da natureza humana, de uma vida vibrante, e viver com elas com mais ligeireza e serenidade.  

Como escreve Miguel Torga: “Recomeça… se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade.” Ou seja, podemos lutar por alcançar os frutos do futuro, mas sem angústia e sem pressa, apreciando cada passo ao longo do caminho duro de existir.

Podemos sintetizar os 4 pilares para uma mente feliz e satisfeita com o acrónimo “EELA”:

  1. Equilíbrio
  2. Empatia ou bondade com os outros
  3. Ligeireza, não levar todos pensamentos muito a sério
  4. Apreciação

Nada disto é essencialmente incompatível com Sucesso ou bem estar material ou prazeres diários – mas também não se atingem através desses prazeres ou sucesso. Por isso, não vale a pena tentar encontrar a felicidade ou bem-estar espiritual por via de prazeres ou sucesso. Não podemos substituir equilíbrio, empatia, ligeireza e apreciação com mais uma promoção ou com uma mala Gucci ou com um pacote de gelado. Isto significa que temos que prestar atenção, seguir um processo consciente para praticar a felicidade – como ir ao ginásio para treinar do corpo, temos que treinar a mente.

Estas características EELA treinam-se. Como músculos, sempre que fazemos meditação ou sorrimos a um pensamento negativo ou decidimos cantar uma música ou sorrir sem razão aparente, é como se fizéssemos uma flexão do nosso cérebro, um abdominal mental. Várias coisas podem ajudar-nos nesse processo: meditação mindfulness, raízes e sentido de pertença a uma comunidade ou objetivo coletivo, um grupo sólido de relações de amizade e familiares.

Aceitar a mudança, apreciar a calma ou surfar as ondas do quotidiano com um espírito de curiosidade, de descoberta. Não vale a pena querer parar o mundo, mas podemos apreciar o desafio da mudança, sabendo que há aquela fonte inesgotável de calma e bem-estar dentro de nós a que podemos recorrer sempre.

Evitar levar-nos muito a sério, deixar algum espírito de brincadeira e leveza nas coisas que fazemos. Não significa passividade ou não levar as coisas a sério, significa não levar demasiado a sério os pensamentos e sentimentos que decorrem da nossa interação com o mundo.

Um sentido de empatia com os outros, de gratidão pela experiência de estar vivo e pelas experiências partilhadas, desde o café da manhã até o beijo de boa noite a uma pessoa amada. Ou simplesmente o semáforo passar a verde na altura certa. Aproveite para agradecer e sorrir. O ato físico de sorrir despoleta emoções positivas, mesmo que forçado. E os momentos de apreciação podem ser quando quisermos. Se estamos parados no transito, em vez de fazer disso um mega problema e disparar a pressão arterial, aproveite para fazer uns exercícios respiratórios: inspirar fundo depois expirar lentamente como se fosse por uma palhina. Ou aproveitar a música no rádio e cantar – o melhor que pode acontecer é a pessoa do carro atrás também dançar.

A auto-consciência é uma parte central do equilíbrio: a meditação mindfulness permite treinar a mente para ganhar consciência de quando está a entrar em pensamentos ou sentimentos que levam a estados de desequilíbrio ou ansiedade, e ter confiança e ferramentas para recuar, ou seja, decidir conscientemente não seguir esse caminho, evitar chegar a um estado total de ansiedade ou stress ou aflição que já não tem volta atrás. Mas isso exige respeitar a mente, as sensações e investir tempo a treinar – meditação é como ir ao ginásio, é uma prática diária.

Evitar sobre-analisar. Tentar aplicar a mente racional a emoções de stress, ansiedade ou angústia só aumenta a perceção de desvio e intensifica a emoção negativa. Em vez disso, tente sair fora desses pensamentos negativos: centrar o foco num movimento constante e involuntário (normalmente usa-se a respiração) e sempre que sentir a mente a desviar, gentilmente volte à respiração. Isto é como fazer flexões: cada vez que se apercebe que a mente está a deambular e consegue trazer de volta, é mais uma flexão que reforça o seu musculo mental, criando mais resistência para gerir o stress e ansiedade.

Treinar uma visualização de bem-estar, como luz do sol dentro do peito, quente e luminosa, e repousar a mente nessa sensação. Não é pensar racionalmente nas coisas que suportam o nosso bem-estar, mas focar na sensação do espaço e liberdade da mente. 

Agradecer tudo o que vai acontecendo de bom, mentalmente, para nos apercebermos de que é bom estar vivo e a existir neste momento.

Procurar ativamente experiências novas: aprender uma língua, experimentar um desporto novo, ler um livro diferente. Ou coisas tão simples como mudar o lugar em que se costuma sentar nas reuniões ou em casa à mesa de jantar, ajuda a dar uma perspetiva diferente à vida e ganhar consciência que não estamos “presos” a uma realidade fechada e imutável.

Por fim, respeitar o nosso esforço pessoal e defender de forma intransigente o valor do que fazemos. Não deixe ninguém menosprezar o seu valor ou esforço – e sobretudo não se deixe a si própria fazer isso. Não vale a pena, é uma perda de tempo. Quando se sentir assoberbado por pensamentos, vá dar um passeio de 20 minutos ou aproveite para ir ao ginásio. Vai ver que isso passa. Ou tente uma coisa radicalmente nova: feche-se no quarto de banho, abra os braços e o peito, respire fundo e sorria. Por fim, reconhecer que todas estas ideias são passageiras. A felicidade é um fluxo e exige um esforço continuo e consciente para a alcançar. Não se trata de aceitar passivamente o mundo, mas encontrar um equilíbrio no modo como agimos com os outros e o mundo.

Podem-me enviar sugestões de pessoas para entrevistar para karlosk.books@gmail.com ou no site www.karlosk.com/contacto

Este blog e podcast é uma experiência pessoal de descoberta. Quem quiser, é bem-vindo a juntar-se. Não esqueça de subscrever o blog e o podcast e recomendar a amigas e amigos. Podem ver mais informação sobre mim e as minhas publicações no site www.karlosk.com, subscrever o blog e ver o link para o podcast nas várias plataformas.

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